Depois do amor
Os olhos dela fechados e ela, aninhada em meus braços, fazem parte da doce lembrança do nosso amor de ontem. Poderia ficar horas admirando o sono dela e esperar pelos tímidos raios do sol de Petrópolis, que teimam em sair vagarosos nas frias manhãs. Seria alegria demais, se já não me bastassem as longas horas furtivas de amor junto à lareira, que estalava queimando, cortando a desordem dos nossos corpos que ardiam. De um lado um vinho barato. Do outro a caneta e o papel gasto, riscado pelas vãs tentativas de descrever beleza singular. E de pensar que, ao despertar, tudo perderá o sentido e o encanto acabará, fico de lado, amando calado a mulher que desejei. O que será que ela sonha? Manhosa, esboça acordar e passeia com a língua nos lábios. Terá gosto do vinho que bebeu em meu corpo, ou apenas do sal do nosso suor mancomunado? Côncavo é o corpo que admiro. Cheiro o cabelo dela e mimo atrás da orelha que é pra não mais esquecer a essência, o rasto do sexo que começamos e terminamos de forma intensa. Sei que, quando ela se vestir e sair pra talvez nunca mais, ficarei por mais alguns minutos, talvez horas, estirado no tapete da sala, bebendo o resto do vinho ou simplesmente olhando pro teto, vendo o tempo passar vagaroso.