Carnaval: O fim?
Ao olhar a cabrocha com ar de sonolenta e ver que o bate-bola foi deixado de lado pelo mascarado, me dei conta que a fantasia estava defasada. Nascia um novo dia. Era quarta de cinzas. Os risos e as alegrias foram varridos tal qual confete do salão. Todo o colorido havia ficado pra trás. Não fazia mais sentido. De um lado, o melancólico Pierrô, entrelaçado pela serpentina, ainda bebia pra esquecer. Do outro, o sempre farsante e brigão Arlequim sorria com deboche e sem despeito o sentimentalismo do parceiro. Não havia de sorrir. Ele também fora passado pra trás. Ela não quer saber de malmequer. Ah, Colombina! Que mulher és tu que minha fantasia domina? Que fim foi esse que destes ao meu baile? Por que não paras de fingir? Tira a máscara. O carnaval sempre despertou sorrisos de momento. Vive a alegria inesperada e chora os prazeres imaculados. O palhaço é sofredor e não usa disfarce, o malandro rebola com seu chapéu de palha. O terno branco, inconfundível, é chamariz pra a moça virginal que, de longe, com graça, acena em minha direção. A marcha fúnebre me acompanha na volta. Me cobre com a tristeza da morte de um carnaval que não deveria ter fim.