Devaneios perdidos

Wednesday, January 25, 2006

Sem carinho

Quem viu meu coração
Arfar pungentemente
Num estado tão carente
Numa noite de luar

Sorriu
Por não ver nele refletido
Alguém cujo amor contido
Se esvaiu sem avisar

E sorriu ainda mais
Quando dela se apossou
Sem carinho, sem amor
Só querendo um algo a mais

Hoje choram dois
Os quais sequer sabem que desse fruto
Só ficou um amor bruto
Vulgarmente chamado paixão

Oh não
Afeto violento
Destruiu o sentimento
Puro que mantive no meu coração

Saturday, January 21, 2006

Esfinge

Sou eu sozinho
E esse nosso amor
Que finge.
Também pudera,
Só eu quisera decifrar
Teu coração de esfinge.
Você sopra e eu vou:
Móbile das tuas vontades.
Mas tu bem sabes
Que já não sei onde estou.
E talvez se voltar
E em ti fitar meus olhos,
Vais gostar e sorrir.
Mas será tarde pra pedir
Pro nosso amor ficar.

Wednesday, January 11, 2006

Da janela - Pet & Artemis*

Ah, poeta...
Quanto esperei-te à beira de minha janela!
Quanto sonho deixei pra você descrever!
Vesti-me de festa pra te olhar de longe...
Por que tão distante estava o teu olhar?

Quanto de poesia ficou no meu olhar!
De devoção e saudade ao te ver passar
Com qualquer uma a toda hora,
Pra preencher o vazio que só eu posso sanar...

Ah, menina dos cabelos cacheados,
De olhos tão rasgados
Que me fazem transpirar!
De tão longe eu fiquei...
Novo ângulo criei
Pra poder te admirar.

Em minhas lascivas poesias,
Um tanto de melancolia
Fez molhar o seu olhar.
Menina. Tão nova e tão bela
Que, pousada na janela,
Conseguiu me conquistar.

Ah, poeta...
Nem me fale
Que desfaleço, assim,
De emoção;
Que não me seguro e me desfaço
Te prendo aqui, nessa canção!
Rapaz garboso, sorriso alvo.
Meu desejo desde sempre!
Se soubesse da tua cobiça
Carregaria-te não só em pensamento.
Serias meu neste momento.
Por que deixaste o tempo passar?

Ah, menina tão moça,
Do corpo frágil que até parece louça!
A alma de poeta me impediu.
Não fiquei preso só a uma,
Mas a qualquer uma
Que na vida me surgiu.

Ainda por cima, quis o bom Deus
Impedir-me de seguir com minha verdade,
De retribuir-te carinhos como os seus,
Pois tu tinhas pouca idade.

E agora, que és mulher,
Tenho medo de lhe dizer
Que a quero como ninguém a quer.
Fico louco só de ver...

Então, desça da janela
E revele sua graça!
Quem sabe assim, eu desfaleça
e a beije em plena praça...

Meu poeta, assim, só meu...
Dono dos olhos, dos cachos e tudo o mais...
Abraça-me de verdade!
Mata logo essa vontade!
Faz-me tua, por favor!

Lá vem a chuva, e nossa benção
Pra curar as feridas que tanto tempo abriu.
Sou mulher, sei o que quero
E me é caro o teu apreço.
Faz-me feliz!
Dê-me a mão!
Que dessa janela eu desço.


* Artemis diz que sou seu espelho e me vê refletido aqui

Sunday, January 08, 2006

O outro lado - Pet & Lubi Prates*

Quando vim pra cá, atrás de meu amor,
Carreguei todo um resto que era meu
Os vizinhos cochichavam ,com pavor,
Que me aventurei com o primeiro que apareceu;
Que seus feitos eram sabidos:
Samba cerveja e mulher.
E que pra controlar sua libido,
Se amarra à primeira que vier.
Mas, persistente, nem liguei.
Fui atrás de um sonho lindo:
Com ele me deitei.
Pra outras, ele vivia sorrindo
Com a cara de bom moço
Que Deus moldou tão bem.
Fazia carícia em meu pescoço
E em todo o corpo também.
Passava o dia no Salgueiro
Enquanto eu passava a lavar
O lençol que já deitou o Rio inteiro.
Já não tinha o que chorar.
Mas o que fazer se ele voltava
Sendo apenas ele, matreiro;
Se o seu corpo ainda cheirava
A mais um dia aventureiro?
Pra mim, aquela cena foi o fim:
Enrabichou-se na esquina
Com minha prima, Madalena
Que, maliciosa, ainda olhou pra mim.
Entre ficar e ser mais uma menina,
Decidi, de imediato, acabar com tal dilema:
Procurarei outro mulato
Bom de papo, de carinho e de calor,
Porque você foi ingrato
Com a única que lhe deu amor.

A Lubi escreve e me deixa com o coração na boca bem aqui

Wednesday, January 04, 2006

Síntese

Estava a tentar escrever uma carta, daquelas que se escreve em papéis finos, com canetas bonitas, iguais as que eu via em filmes. Minha inspiração em nada se parecia com a daquele homem. Não vinha fugaz e amiúde, mas atinava vagarosa, como se eu tivesse todo tempo. Discorria, sem muita precisão, sobre as coisas bonitas que remetiam você e do brilho do amor que reluzia em seus olhos. Esboçava os carinhos que seu corpo profano iriam conhecer, os beijos que varei a sonhar por noites infindáveis. Fantasiava. Cerrava os olhos pra resgatar as palavras que se perderam à sua procura, pra ter de volta as oportunidades que se foram escondidas na altivez. Buscava alcançar você onde quer que fosse: em livros de poesia, nos clichês de romance, nas letras que tentavam, em vão, decifrar o que eu sentia. Desvendava os segredos do mar que nunca se enchia das águas dor rios que nele iam abraçar, do cheiro das rosas que lhe emprestavam toda afrodisia. Mas ao tentar escrever o que eu sentia, a única certeza que eu tive foi saber que de todos os lugares onde nunca estive, de todas as coisas que nunca tive, o teu coração é o que mais gosto.

Monday, January 02, 2006

Malandro parvo

Pensei que não me apaixonaria por nenhuma mulher depois daquela mulata da Portela, que jurei ser meu amor, porque ela me fez de moleque. Tomei muito pileque pra curar tamanha dor! E cá estou novamente, penitente de meus castigos, peço a Deus que não me coloque no mesmo bonde, contigo. Pois quando saí de Madureira, achei que fosse passageira minha estada na Tijuca, quando conheci outra maluca a quem ofereci o que não tinha. E ela, só de rinha, jurou sua fidelidade, disse que era casta de verdade, que só se entregaria por amor. Mas que malandro imbecil eu fui! Enquanto comprava rosas no Ponto de Cem Réis, ela saía com a Turma do Funil e fornicava com mais dez. Não quero saber de conversa, de Portela, Madureira...quero curar a bebedeira bem longe da Tijuca, longe da muvuca que de mim só sabe rir. Com sossego, a cabeça no travesseiro, quem sabe o tempo, passageiro, não me tortura até dormir.